Quando eu olho para a vida observo como eventualmente projetamos uma linha reta. O nosso cérebro tem uma capacidade incrível de processamento. Por meio da nossa linguagem aprendemos a nos diferenciar, a reconhecer e comunicar as nossas necessidades, aprendemos a planejar, a projetar.
O não da criança é um convite para os pais observarem ali a existência da autonomia do ser que se movimenta na direção dessa diferenciação.
Nesse processo o desejo do outro, semelhante a mim, abre espaço para o querer ser diferente, e ao mesmo tempo aceito, amado, amparado, reconhecido como indivíduo e como parte. O querer que nos coloca em contato com emoções nem sempre confortáveis. Sentimos medo. Calculamos. Culpamos. Nos afastamos. Usamos a linguagem que aprendemos para nos relacionar com um mundo em uma narrativa interna incessante. Aprendemos a pensar.
Entrar em contato direto com os nossos pensamentos e emoções pode, em um primeiro momento, levar a um recuo. Não quero ver isso! Mas aí aos poucos percebemos que por momentos curtos pensamentos e emoções quando conscientizados nos ensinam muito sobre o nosso próprio funcionamento. 2 ou 3 segundos. Depois minutos. Não somos mais arrastados. Aprendemos a ver a experiência de uma forma diferente. Abraçamos o desconforto sem se deixar dominar - desfusão cognitiva chamariam alguns teóricos?
Aí descobrimos que a vida não é uma linha reta. Que os sentimentos mudam. Que o último capítulo da novela não contou a verdade. E quando esse dia chega como é importante compreender que temos dentro de nós o nosso próprio lar. Aos poucos podemos nos abrir para a vida mesmo quando ela sai do nosso planejamento, podemos fazer escolhas, tomar decisões, e experienciar essa completude e conexão por meio do autoconhecimento, que permite também conhecer o outro como o nosso semelhante. O estranho se torna repentinamente familiar.
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